A Geração Z e o Novo Jeito de Criar Gêneros Musicais
A forma como a Geração Z se relaciona com os gêneros musicais é radicalmente diferente das gerações anteriores. Para eles, as barreiras entre estilos são fluidas, quase irrelevantes. Enquanto no passado as pessoas se definiam por tribos sonoras — como “roqueiro”, “pagodeiro” ou “funkeiro” — hoje, a mistura é a regra.
Plataformas como TikTok, SoundCloud e YouTube permitiram que sons experimentais ganhassem espaço fora das gravadoras. Isso abriu caminho para que gêneros musicais totalmente novos surgissem, criados dentro de quartos com laptops e difundidos por vídeos curtos, memes e estética visual. A Geração Z valoriza mais a vibe e o conceito estético do que a técnica musical tradicional.
Outro fator importante é a cultura da ironia e da estética “feita para parecer feia”. Muitos desses novos gêneros musicais não buscam agradar, mas causar sensações inusitadas — às vezes desconforto, às vezes nostalgia digital. Para quem cresceu com rádio e CD, isso parece incompreensível. Para eles, é liberdade criativa.
Nesse cenário, surgem estilos que misturam o lo-fi com o exagero, o ruído com o humor. Gêneros que a geração anterior ignora, mas que para os jovens, fazem total sentido.
Gêneros Musicais Inventados na Internet (Que Eles Levam a Sério)
A internet se tornou uma fábrica de gêneros musicais inusitados — muitos dos quais nasceram como piada, mas cresceram em comunidades apaixonadas. Um exemplo é o vaporwave, um estilo que desacelera músicas dos anos 80 com eco e distorção, criando um clima de nostalgia surreal. A estética retrô glitch é parte essencial do gênero, sendo quase tão importante quanto o som.
Outro estilo forte é o phonk, que mistura beats lo-fi, vocais distorcidos e samples de rap dos anos 90, criando um universo sombrio e urbano. Popularizado por vídeos de carros e lutas no TikTok, o phonk virou trilha sonora da rebeldia digital.
O hyperpop é talvez o mais caótico de todos. Com batidas aceleradas, vocais artificialmente agudos e saturação extrema, ele quebra qualquer expectativa de “boa produção”. Mas essa quebra é proposital — uma crítica ao pop comercial e uma celebração do exagero.
Tem ainda o famoso slowed + reverb, onde qualquer música é transformada em uma versão arrastada, melancólica e introspectiva. É o som da solidão online, embalado em reverb.
Esses gêneros musicais não seguem fórmulas. São experiências criadas e espalhadas por jovens que redefinem o que é música — e o que ela pode significar.
Você Já Ouviu e Nem Sabia: Como Esses Gêneros Invadem Tudo
Embora muitos desses gêneros tenham nascido de comunidades underground, sua popularidade se espalhou rapidamente para os mainstream. Phonk e hyperpop, por exemplo, começaram como estilos de nicho e agora influenciam grandes artistas pop e rap. O fenômeno da viralização no TikTok é um dos principais motores dessa transição, com músicas que se tornam virais por conta de vídeos criativos, memes e danças.
Artistas como Doja Cat e Lil Nas X começam a incorporar elementos do hyperpop em suas produções, trazendo mais reconhecimento para o gênero. A estética do slowed + reverb, por sua vez, aparece em várias playlists de relaxamento e estudos, se infiltrando em espaços de consumo que antes eram dominados por músicas mais “tradicionais”.
A chave do sucesso desses gêneros é o algoritmo. Plataformas como Spotify e YouTube impulsionam essas músicas através de playlists e recomendações personalizadas, fazendo com que qualquer pessoa, sem saber, acabe ouvindo o que começou como uma moda de nicho. A diferença é que agora esses sons já fazem parte da cultura popular — e não apenas da internet.
Esses gêneros estão dominando as plataformas digitais e quebrando as fronteiras de gêneros musicais convencionais.
Estamos Entendendo Errado? O Valor Cultural do Som Que Não Faz Sentido
A reação de muitos ao ouvir hyperpop, phonk ou slowed + reverb pela primeira vez é, frequentemente, de estranhamento. Sons distorcidos, vocais artificiais e beats que parecem caóticos à primeira vista podem parecer “sem sentido” para quem está acostumado com as músicas mais polidas e convencionais. No entanto, o valor cultural desses gêneros vai muito além da musicalidade tradicional.
Esses estilos são uma expressão genuína de liberdade criativa. Eles não seguem as regras que definem o mainstream, justamente por isso ressoam tão fortemente com a Geração Z, que valoriza a autenticidade, o inesperado e até mesmo o desconforto estético. A música, nesse caso, não precisa ser “bonita” ou “harmoniosa” — ela pode ser sobre a experiência de escutar, sentir e se conectar de maneira visceral.
A estética do “feio” e do “caótico” tem um significado profundo em um mundo digital saturado de imagens perfeitas e conteúdos pré-fabricados. Para a Geração Z, essa música é um reflexo do caos e da liberdade da internet: uma forma de expressão onde não há regras, e onde o objetivo não é agradar, mas sentir.
Esses gêneros musicais podem não ser para todos, mas definitivamente são uma poderosa linguagem cultural.
Bora Musicar!